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16 de março de 2012

Capítulo 1 - Pt. 1

A cor negra domava o céu, fazendo-o pertence da Lua e das estrelas. Eu me despedia do céu azul e o sol intenso, que sumia em um minuto. Na casa de Della, nada disso via-se; apenas uma intuição minha. Eu e ela esperávamos as outras garotas para uma festa do pijama, e era possível que alguns garotos viessem também, apreciar e ver-nos com roupa de dormir. Mas Della tinha tudo sobre controle, eu esperava.
Eu estava com um conjuntinho estampado de algodão, e a outra com um vestidinho com babados na ponta. A casa estava vazia – apenas eu e minha amiga esperávamos as outras permanecendo em silêncio.
Alguém batia ansiosamente na porta.
– Della! – Cumprimentou Chloe, entrando na sala de Della, após ela abrir.– Awn... Vai ter Dance? – Grunhiu ela.
– Vai, o meu pai comprou esses tapetes pra a gente dançar.
– Nossa. Legal – Disse Chloe animada. – Onde estão as garotas daqui?
– Ainda não chegou ninguém – Della nem notava que eu estava ali, hesitante. Chloe me viu sentada no sofá.
– Angela! Tudo bem?
– Tudo – Murmurei.
– Seu pijama é muito fofo...
– Obrigada, Chloe – Eu percebi a falta de assunto.
– Vou colocar meu pijama. Della, qual banheiro posso... Ah, tá – Procurava Chloe o banheiro, enquanto Della apontava no fim do corredor.
Della ligou o som, e pôs um CD de pop. A música começou a tocar, dominando o lugar, e chegavam cada vez mais garotas. Eu ficava cada vez mais por fora, então resolvi ir ao banheiro molhar o rosto.
Caminhei até o fim do corredor e entrei em um pequeno cômodo com as paredes ladrilhadas por pedras brancas e azuis. Abri a torneira e joguei água no rosto, para tentar espantar o tédio e o sono. Olhei-me no espelho, e eu estava como sempre. Os cabelos, castanhos e ondulados, estavam meio queimados pelo sol, os olhos num castanho claro, mais puxado para o verde, o nariz meio arrebitado e as sardas espalhadas pelas bochechas. Percebi que eu estava com enormes olheiras. Será que alguém tinha notado? Comecei a procurar alguma base ou corretivo no banheiro para disfarçar aquelas coisas medonhas embaixo dos meus olhos, mas a busca foi interrompida por um grito estridente de dor vindo da sala.
Imediatamente abri a porta e me retirei até a sala, com medo de qualquer coisa que pudesse ter acontecido. As expectativas de adivinhação não existiam.
Foi então que me deparei com ela.
Todos estavam boquiabertos com uma expressão de horror ao ver uma das garotas da festa esparramada no chão, ao lado de uma poça de um líquido vermelho. Este mesmo líquido descia de sua cabeça, sujando o seu rosto, que estava paralisado numa feição morta – sua boca estava aberta e os olhos esbugalhados.
Eu não esperava essa situação. Estava frente a frente com uma menina morta.
– Ai meu deus! – Gritavam as garotas, fugindo pela porta da frente.
Eu não saí; fiquei ali com Della, ligando para a ambulância e para os pais da garota.
– Alô? São os pais da Tracey? – Perguntava Della, ligando para o número da garota, que havia em uma de suas agendas. – Não? Como assim? Não existem? Ahã... Tá bom, obrigada.
Ela desligou o telefone e me olhava espantada. Nós duas tentávamos desviar o olhar da garota cheia de sangue.
Em alguns minutos de tremedeira, a ambulância chegou e levou a Tracey. Eu e minha amiga estávamos mudas e não sabíamos o que fazer.
– Você vai dormir... aqui hoje? – Perguntou ela, assim que a ambulância sumiu de vista.
– A minha mãe não está em casa.
– Tudo bem. Só vou ligar pra minha mãe...
– Não, Della – Eu a interrompi.
– Por quê?
– É melhor contar a ela amanhã. Vamos dormir.
– Você tem razão... – Suspirou, indo para o quarto, enterrado de colchonetes e travesseiros para a festa do pijama arruinada.
Ela me jogou um lençol, e daquele jeito mesmo, nos deitamos no chão, mas sem apagar as luzes.
Minha cabeça estava um tormento; não conseguia esquecer a cena que tive a desagradável chance de presenciar. Precisei de alguns minutos para me certificar: “Todos estávamos bem, ia ficar tudo bem”, pensei fechando os olhos para tentar pegar no sono.
– Angela – Disse Della quando eu quase dormia.
– Quié...?
– O que aconteceu com aquela garota?
– Eu não sei... Mas estou com medo.
– Eu também.
Dito isso, nós duas dormimos.

Dia seguinte acordamos preocupadas, e Della não contou a sua mãe o que havia acontecido, afinal, quanto menos gente nisso melhor, na opinião da minha amiga com minhocas na cabeça – Todas as meninas da festa tinham presenciado a possível morte. Mas eu a forcei a explicar tudo depois da aula, afinal, uma garota morreu sinistramente no chão da sua sala de estar e você não tem o direito de saber?

Na escola, o clima também era sinistro. Algumas garotas choravam, algumas esbugalhavam os olhos de medo ao ver nós duas, algumas se agarravam aos namorados, outras fofocavam... Óbvio que nós éramos o centro das atenções, principalmente a Della, pois a casa era dela, e ela que organizara a tal festa. No recreio, assim que estava o corredor enorme da escola. O burburinho rodeava entre as salas, desde a 7ª série até o 2º ano. Apenas os mais isolados ficavam de fora. Aqueles nerds, pessoas rejeitadas, só por serem diferentes.
De repente, levei um susto: O Andrew Knight, um garoto meio nerd da minha sala com quem eu falava raramente apareceu atrás de mim. Foi só falar neles, que um apareceu. Mas esse era meio exceção.
O Andrew tinha um cabelo loiro-escuro, que usava meio jogado para a esquerda, e os olhos de um tom azul meigo, e suas feições eram de um garoto popular, e não de um nerd. Mas mesmo assim era acanhado, deixado de lado e às vezes admirado de longe por aquelas que notavam sua ilustre presença no colégio.
Andrew carregava uma pilha de livros e cadernos e sua mochila aparentemente pesada nas costas quando me abordou por trás sorrateiramente:
– Angela, é verdade que a Tracey morreu? – Perguntou. Virei-me para trás e vi o garoto loiro olhando para mim, esperando uma resposta.
Continua...

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